A busca por uma imagem para institucionalizar a identidade da nação-Brasil
A idéia de nação, no Brasil, vem a principio, aliada à idéia de unidade, onde se primou por forjar uma homogeneidade cultural num pais de regiões dispares e heterogêneas. O período é de 1838/39, em que é fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e se prolongará até 1933, tendo este como o único centro de estudos históricos do Brasil. O recorte histórico ao qual se insere esse período, engaja o país já independente, porém com uma monarquia cujo rei D. Pedro II era nada menos que filho do trono da Metrópole que outrora mantinha a “terra Brasil” num sistema de colônia de exploração.
A terra Brasil, de trono português, precisava firmar-se como uma identidade, pois “a nação recém – independente precisava de um passado do qual pudesse se orgulhar e que lhe permitisse avançar com confiança para o futuro” (REIS, 2001). No entanto essa busca era baseada numa ótica política à qual estava atrelada a referência europeia para institucionalizar a nação advinda exatamente da imagem do português colonizador.
“No essencial, a historia do Brasil será a história de um ramo dos portugueses, pois o português foi o conquistador e senhor. Ele deu as garantias morais e físicas ao Brasil. O português foi o inventor e motor essencial do Brasil” ( REIS, 2001 p. 26). Seria com esse olhar que os historiadores da época buscariam um Brasil que se assemelhava ao branco europeu para assim se fundar uma nação de “civilizados”.
Até então, a fonte priorizada para a historia do Brasil estava limitada a documentos que eram usados meramente de forma narrativo-descritivo, sem analises de cunho sócio-cultural, condição que colocava o negro, o mestiço, caboclo, índio, negros, etc., como marginalizados e/ou incivilizados, tratando-os de desclassifica-los da referência como representantes das figuras nacionais .
Nessa busca por uma identidade nacional se revelava a negação da própria gente em prol da institucionalização da imagem do europeu como representação de identidade do Brasil ao custo de tornar os indivíduos da nação os outros na própria terra.
“Eis a historia de que o Brasil recém-dependente precisava, ou seja, de que as elites brasileiras precisavam para levar adiante a nova nação, nos anos de 1840-60. Uma historia que realizasse em elogio do Brasil, de sues heróis portugueses, do passado distante e recente, que expressasse uma confiança incondicional em seus descendentes. Uma historia que não falassem de tensões, separações, contradições, exclusões, conflitos, rebeliões, (...)” (REIS, 2001, p. 28).
Segundo Jose Carlos Reis¹ , 2001, foi Varnhagem, famoso historiador da época imperial, quem precedeu com sua obra Historia geral do Brasil toda essa leva de saudosismo lusitano para engajar a idéia de nação, porém sem adentrar os aspectos sócio-culturais da colônia, “ ele parecia não abranger os aspectos da vida nacional”.
As seguintes interpretações para o Brasil e uma suposta identidade são construídas num momento de fragilidade política em que as estruturas do Império estão abaladas e a possibilidade de um desvinculamento da imagem do colonizador estão desfigurando-se nas produções dos historiadores nacionais que a partir de então buscam novas referências para a firmação da nação sob a construção de uma nova identidade. A partir de 1870 o ambiente intelectual brasileiro torna-se mais interpretativo e mais consciente, o que leva a uma produção de cunho mais social que político.
A partir de um outro escritor, Sergio Buarque de Holanda a associação exclusiva ao português é deixado de lado para dar lugar à gente brasileira, o que leva as pesquisas de conhecimento do Brasil adentrar o sertão e achar lá a gente do Brasil que não apresentam semelhança com os europeus, apontando a possibilidade de uma nova aliança entre identidade da nação ligada a seu próprio povo, a natureza e à distinção de lugares, merecendo assim novas ênfases ao regionalismo.
“ A questão da identidade nacional centra no discurso que adentra o brasileiro dentro do contexto do regionalismo, regendo uma harmonia com a natureza, discursando sobre paisagem e aspectos naturais, formando com isso a base para estabelecer valores regionais, que respigam no nacionalismo. (...)” (ORLANDI, 1993: ...)
Com isso pôde-se adentrar o Brasil e definir, dentro de suas próprias fronteiras, o que é nacional e o que não é; e assim atrelar valores associando-os exatamente a uma definição que engaje uma visão menos romântica que realista.
Não é difícil dizer, atualmente, se essa tentativa de representação real do povo brasileiro se perpetuou!
Fonte:
© obvious:http://lounge.obviousmag.org/noites_na_taverna/2014/08/
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