BRASIL À SOMBRA DO PETROLÃO

Sombra (Foto: Arquivo Google)

À sombra do petrolão

O PMDB é o partido mais apreensivo com possíveis novas revelações de Cerveró, já que o ex-diretor foi apontado como o operador do partido na Petrobras
O Congresso está em recesso, mas não as articulações parlamentares para eleger os presidentes da Câmara e do Senado daqui a dez dias. Na Câmara, os três candidatos – Eduardo Cunha (PMDB), Arlindo Chinaglia (PT) e Júlio Delgado (PSB) – percorrem o país em busca de votos. A disputa se encaminha para a polarização entre o líder do PMDB e o petista, que sonha com a volta ao cargo. Os dois principais rivais travam ácido duelo nos bastidores e na mídia, com graves trocas de acusação.
O poder da cadeira explica a virulência de uma eleição que, embora restrinja-se a um eleitorado de 513 votantes, escolhe o terceiro homem da República, a quem cabe substituir a presidente no impedimento do vice, estabelecer o roteiro do que se discute e vota no Congresso e gerir a força parlamentar nas temporadas marcadas por pressões por CPIs e ameaças de pedido de impeachment.
Nas safras pautadas por crise econômica e temperatura política sufocante, vale tudo, como diria o pranteado Tim Maia, inclusive as supostas verdades absolutas difíceis de serem desconstruídas no calor da campanha. Só não vale perder, conforme as regras de ouro da política. Contra isso existe o marketing, o gol de mão e o fantasma, no caso o petrolão, que tornou-se a principal arma política do Brasil em 2015.
Lembrem-se que recentemente, a imprensa divulgou suposto trecho da delação premiada do doleiro Alberto Youssef, peça fundamental da Operação Lava-Jato, no qual ele aponta Eduardo Cunha como beneficiário do esquema de corrupção na Petrobras. Cunha atribuiu o vazamento da denúncia, falsa, diz ele, ao hoje principal adversário, ontem parceiro estratégico na conquista da Presidência pela quarta vez – ele mesmo, o PT.
Arlindo Chinaglia negou a acusação e criticou o adversário por defender a instalação de uma nova CPI para investigar a estatal. O petista o comparou ao senador cassado Demóstenes Torres, que pedia CPIs contra o governo “jogando para a plateia”, e acabou derrubado por uma delas.
Cunha tem sua candidatura avalizada pelo PMDB, chancela que serve como um recado ao Palácio do Planalto, pois materializa a insatisfação do partido com a reforma ministerial. O clima de animosidade de outras legendas com o PT é um trunfo para o deputado carioca.
Já Chinaglia espera contar com o apoio de ministros palacianos e com novos respingos da Operação Lava-Jato, à sombra da qual se desdobram quase todas as ações políticas. Representantes do PSD, PP, PR e PRB, entre outros, trabalhariam por ele na penumbra, de forma a disfarçar as mãos ágeis que manipulam fantoches.
A prisão do ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, por exemplo, alimenta as expectativas de Chinaglia. Há o temor entre os partidos de que Cerveró, depois de um período na prisão, renda-se, e acabe colaborando com a Justiça por meio da delação premiada, assim como fizeram o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o doleiro Alberto Youssef.

Problema delicado. O PMDB é o partido mais apreensivo com possíveis novas revelações de Cerveró, já que o ex-diretor foi apontado como o operador do partido na Petrobras. Seus temores se agravam diante da expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, encaminhe ao Supremo Tribunal Federal (STF), a partir de fevereiro, os pedidos de abertura de inquérito contra parlamentares e autoridades citados nas delações premiadas da Lava-Jato.


Após a denúncia que será oferecida por Janot ao STF, a tendência é que, de fato, uma nova CPI da Petrobras seja criada no Congresso Nacional, tencionando ainda mais os ânimos do sistema político que opera aos sobressaltos em Brasília.


Não foi por acaso que, na semana passada, o comando nacional do PMDB fez uma declaração formal de apoio ao deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o pré-candidato à presidência do Senado Federal. A ação visava evitar que a histeria dos fatos novos surgidos na Operação Lava-Jato debilite o partido, afetando de véspera o seu desempenho na disputa pelo comando do Congresso, primeira batalha pela guerra de conquista do poder em 2018.


Fonte:http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2015/01/sombra-do-petrolao.html

Sombra (Foto: Arquivo Google)

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