Seis líderes capazes de transformar o Brasil que você precisa conhecer
Com a palavra, alguns dos mais importantes agentes transformadores do país
O valor da cultura ancestral e a vontade de transformar o mundo, eis duas das mais marcantes características de Marcelo Rosenbaum, designer que foi editor convidado da Casa Vogue e à época dividiu conosco algumas de suas maiores inspirações - entre elas, os seis líderes que você conhece abaixo. Personalidades de diversos cantos do país que simbolizam à perfeição as conquistas de seus povos e povoados, sejam elas constitucionais, empresariais e até morais.
Com a palavra, alguns dos mais importantes agentes transformadores do país:
DIARA TUKANO
Ela caminha pela Praça dos Três Poderes como quem anda no terraço de casa, tranquila e com histórias escondidas em cada canto. A estátua da Justiça, por exemplo, já teve o rosto da artista projetado durante uma performance. Filha de pais ativistas, participou do movimento estudantil, do feminista e, agora, cursando mestrado em Direitos Humanos na UnB, encontrou autonomia para mergulhar na defesa dos povos originários. “O movimento indígena define a minha história, é algo que eu não posso simplesmente evitar.” Engajada na desconstrução de preconceitos com os quais conviveu toda vida, Daiara dedica-se à compreensão da história para além da versão do colonizador, recorrente nas narrativas oficiais. “É fundamental que se construam cada vez mais diálogos divergentes deste eurocentrismo, porque todas as origens têm igual valor.” Uma busca que fez de Daiara coordenadora da Yandê, primeira rádio web indígena brasileira, e participante incansável de rodas de conversas que debatem a representatividade de minorias. “Nós sabemos que todos estão na mesma canoa, na mesma terra, na mesma água, respirando o mesmo ar e compartilhando a mesma comida. E se uma diversidade tão grande de indígenas consegue ter essa dimensão de mundo, os não indígenas também conseguem.”
DITÃO
A alguns metros de uma igreja erguida no século 17 por seus ancestrais, Benedito Alves da Silva, o Ditão, líder da comunidade do Quilombo de Ivaporunduva, no interior paulista, fala sobre resistência, sobrevivência, lutas e vitórias. “A dona dos escravos saiu em busca da saúde e não voltou. Eles ficaram abandonados aqui e começaram a batalhar por liberdade muito antes da Lei Áurea”, conta ele sobre o início difícil e violento do povoado que ficou praticamente isolado e desamparado até 2010, quando foi construída a ponte que facilitou a saída das crianças para a escola e o escoamento de produtos para comércio – eles sobrevivem da venda de banana orgânica e, mais recentemente, do turismo ecológico e étnico cultural. Naquele mesmo ano, ele comemorou outro triunfo: Ivaporunduva foi o primeiro quilombo, e por ora o único, entre os 82 existentes em São Paulo, cujos títulos de terras foram reconhecidos e registrados em cartório. “Estávamos nesta luta desde 1988. Foi uma importante vitória para todos os quilombos do Brasil”, explica. Outra conquista: a lei 10.639, de 2003, que obriga a inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira na rede de ensino, tem dedo dele e de outros líderes quilombolas. “Primeiro exigimos a lei da igualdade racial. Mas como falar sobre identidade se o Brasil não conhece a história do negro? Precisamos criar ferramentas para o brasileiro aprender desde pequeno que nós todos somos iguais.”
JONATHAN BEREZOVSKY
Foi durante uma temporada em Israel que o argentino Jonathan Berezovsky, descendente de italianos, russos e poloneses, teve o primeiro contato com refugiados. Sua percepção sobre os fluxos humanos no mundo se alterou. O empreendedor já se mudou para São Paulo com a certeza de que gostaria de fazer algo para empoderar imigrantes e refugiados. E assim nasceu a Migraflix: ONG que aposta no conhecimento dessas pessoas, ajudando-as a colocar em prática iniciativas que geram renda e, ao mesmo tempo, instigam a integração e a troca cultural. As experiências que elas trazem de Angola, Bolívia, Congo, Haiti, Nigéria, Senegal, Síria e Venezuela, entre outros países, viram uma série de workshops e palestras motivacionais em empresas como Google, Facebook, Airbnb e WeWork, ou serviço de catering. A ONG aposta, ainda, na capacitação para empreendedorismo cultural. “Habilitamos aqueles que mostram interesse pela culinária com aulas na Escola Wilma Kövesi e, no fim do curso, eles ganham três meses de participação destacada no Uber Eats”, explica. O maior sucesso, no entanto, é o projeto Meu Amigo Refugiado, no qual famílias brasileiras acolhem integrantes de outras nacionalidades para jantares em suas casas durante datas festivas: “Tínhamos uma lista de 70 refugiados e mais de 6 mil famílias se ofereceram para recebê-los”.
AILTON KRENAK
Fã de Milton Nascimento, leitor de Nietzsche, ambientalista e cliente número 1 do restaurante do seu Brás, Ailton Krenak é um dos representantes indígenas mais importantes do país. Conhecido pelo discurso que entoou na Constituinte de 1988, quando pintou o rosto para defender seus direitos, o líder é resiliente como a água. “Ela me inspira e me dá sinais de possibilidades. Abre caminho entre as pedras e restaura a vida”, teoriza o ativista, que faz o mesmo desde que saiu da sua terra, na região de Itabirinha, MG, por pressão das metalúrgicas e siderúrgicas que tomavam o médio Rio Doce. Em São Paulo, veio o insight: “Percebi que o que acontecia comigo acontecia em todo lugar. Não adiantava fugir, tínhamos de lidar com isso”. Se juntou a movimentos políticos e passou por várias estradas até fincar os pés na Serra do Cipó, também em Minas. A região é parte da Serra do Espinhaço, que Ailton ajudou a promover a Reserva da Biosfera pela Unesco, afim de prevenir ações exploratórias. Ali, ainda abrigou o Festival de Dança e Cultura Indígena, projeto que enche o Krenak de orgulho por realizar o encontro de seus parentes e ajudá-los a reviver seus rituais e perder a vergonha de ser quem eram. O evento chegou ao fim há mais de dez anos, mas a energia naquela terra reverbera, guiando Ailton na sua missão. “A natureza é nosso bem comum. Temos de voltar a ela e desenvolver processos acessíveis a todos. É dessa forma que fazemos mudanças, pelo conhecimento.”
EDUARDO LYRA
“Minha meta é levar um empresário por semana para visitar a favela”, revela Eduardo Lyra, que aos 30 anos comanda a ONG Gerando Falcões, instituição focada na qualificação (ou “aceleração”, como diz) de jovens da periferia. “Ninguém escolhe de onde vem, mas escolhe para onde vai” – este era o conselho da mãe que o líder levou a ferro e fogo. Ele cresceu na favela, dormiu na banheira por falta de cama e conviveu com o pai preso durante boa parte da infância, mas nunca teve medo de sonhar grande. Com discurso alto e claro de quem chegou a fazer cursos de liderança em Harvard, Eduardo quer dobrar o investimento em filantropia no Brasil, criar a maior rede de ONGs do planeta e (por que não?) acabar com as favelas de seu país. Um plano ambicioso para quem começou o projeto sem saber que havia pessoas dispostas a doar dinheiro para ajudar a periferia. “Eu não sabia que existia esse tipo de gente”, brinca Eduardo, que já fez parcerias com gigantes como Ambev e Motorola. “As pessoas não escolhem onde nascem, mas decidem como dialogar com o mundo. Se vão ser generosas ou não, participativas ou não, solidárias ou não, preconceituosas ou não. Eu tento influenciar essa escolha”, argumenta o agora empresário do terceiro setor que, ainda na faculdade de jornalismo, percebeu que precisaria sair da favela e criar pontes entre a “Suíça” e a “África” do Brasil, para transformar, de fato, sua realidade.
MARCILENE BARBOSA
Ela comprou o primeiro xampu aos 7 anos com dinheiro da venda de artesanato. Hoje, aos 42, continua a trabalhar com a palha da carnaúba e, mês passado, construiu sua casa com o que ganha pelo seu ofício, com direito a água encanada – são poucas em Várzea Queimada, no Piauí [ver à pág. 100]. Líder da Associação de Artesãs do povoado onde vive, Marcilene Lusia Barbosa tem muito para comemorar: o grupo conquistou força e respeito nos últimos anos e, não à toa, ela recebeu, no ano passado, o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios no Piauí, na categoria empreendedora rural. “Juntas somos mais fortes. E vamos, aos poucos, ganhando independência”, afirma Marcilene, que acaba de comprar, com mais 30 artesãs, a casa onde morava João da Cruz, fundador da comunidade, em que a carnaúba seca é desfiada e trançada. As mulheres se uniram em 2009, mas contam que eram humilhadas e tinham o trabalho desvalorizado antes da chegada de Marcelo Rosenbaum em 2011, que, através do A Gente Transforma, ajudou-as a reinterpretar a palha. A luta, no entanto, está longe de acabar e agora é pela regularização da Toca (outro espaço erguido por elas com Marcelo) para obter facilidades básicas, como a água. Ela não perde a fé – na foto, segura o terço de borracha reciclada feito pelos homens da comunidade – e quando questionada sobre seu grande sonho, é categórica: “Que o progresso seja contínuo.
Fonte:https://casavogue.globo.com/LazerCultura/noticia/2018/10/seis-lideres-capazes-de-transformar-o-brasil-que-voce-precisa-conhecer.html
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