Bolsonaro cada vez mais parecido e no caminho de Fernando Collor; entenda o porquê
Por Ricardo Kertzman*
Não se prendam nas diferenças entre um e outro nem no contexto político. O texto trata das semelhanças, que são muitas e inegáveis
Talvez os mais jovens não conheçam bem a história, mas, em 1992, houve um político implorando ao povo que o elegeu: “não me deixem só“. Meses depois, renunciou para não ser impedido e perder os direitos políticos.
A trajetória do então “caçador de marajás” Fernando Collor de Mello guarda profundas semelhanças com a do “mito” Jair Bolsonaro. Ambos foram alçados ao poder por representar um personagem populista, autoritário, “cabra-macho” e profundamente contrário ao lulopetismo (sim, naquela época já existia essa praga maldita).
Collor comprou briga com tudo e todos desde o primeiro dia na presidência. Quando o fez com seu núcleo mais próximo — o próprio irmão Pedro — a casa caiu. Foi dele (Pedro) que partiu a denúncia de uso de dinheiro de campanha para fins particulares que levou Fernando à lona.
Bolsonaro segue o mesmo caminho. Mal assumiu a cadeira e criou inimigos que antes eram aliados. Rompeu com o próprio partido e agora encontra-se cada vez mais isolado e acuado. Além disso, tem um Pedro Collor (por ora inerte) para chamar de seu: o ex-assessor Queiroz.
Politicamente isolado, num ato de desespero, Fernando Collor resolveu apelar às ruas. Convocou a população para sair vestida de verde e amarelo em seu apoio, tal qual fez Bolsonaro no último dia 15 de março. Collor recebeu uma sonora manifestação de gente vestindo preto nas ruas. Bolsonaro não teve esse azar, mas tampouco a sorte do apoio.
De 15 de março para cá, os ânimos em relação a Jair Bolsonaro pioraram muito. Errático, alienado, negacionista, tosco, cada vez mais agressivo e autoritário, desnudo em toda sua ignorância e incapacidade, vem sendo diariamente exposto a uma realidade muito maior do que consegue suportar: a de que é um inútil nessa crise toda.
Sempre que é confrontado pela parte excelente do seu ministério (Guedes, Moro, Tereza Cristina, Mandetta, Tarcísio…) e nota a popularidade destes perante o eleitorado, o sentimento de inferioridade sobe à estratosfera e o presidente investe ferozmente contra. Fez isso com Moro e Guedes. A bola da vez é Mandetta.
Bolsonaro nunca teve apoio majoritário da sociedade. Sempre mostrei isso com números. Há textos meus a respeito. Basta visitar o arquivo do blog. Seu eleitorado não passa de 10% a 15%, se muito, do total. Foi eleito graças ao antipetismo e à absoluta ausência de quem encarnasse o anti Lula. A parcela que o elegeu e que nunca lhe foi fiel, em sua maioria já o abandonou. Eis um aqui! (não confundir com não apoiar o governo e não torcer para dar certo). Ter votado em Bolsonaro contra o PT nuca significou ser seu eleitor.
Dia após dia, besteira após besteira, Bolsonaro e seus filhos aloprados vêm cansando quem nunca lhes foi muito adepto. Somado à metade do País que sempre lhe odiou, hoje, intuo que encontre ao menos 75% da população em sentido contrário.
Que os dias vindouros serão difíceis e trágicos, ninguém duvida. Que o animador de auditório continuará investindo em sua própria destruição, isso resta claro. Que não consegue apoio nem dentre o próprio time de ministros, também. E mais…
Que não possui base no Congresso (nem partido!!), que não conta com a subserviência do judiciário, que tem uma imprensa impiedosamente agressiva a seu desfavor, que ouve apenas os filhos lunáticos e mais um ou outro tarado intelectual que lhe cerca, também são fatos. Ou seja, Bolsonaro está e estará cada vez mais só, junto aos seus diminutos fieis apoiadores.
Tudo isso será suficiente para afastá-lo do poder diante do caos que vem se aproximando? Não sei. Mas se tivesse que apostar, apostaria num doidivanas solitário, cercado por mais um ou outro maluco da espécie, gritando para meia dúzia de fieis: “não me deixem só“.
É incrível, mas Fernando Collor ressuscitou sob a forma de Jair Bolsonaro.
*Ricardo Kertzman nasceu em Brasília, em abril de 1967. É blogueiro do Portal UAI e colunista do jornal Estado de Minas. Escreve sobre política e outros assuntos de interesse geral.
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