IMAGENS RECENTES CONFIRMAM CRISE HUMANITÁRIA VIVIDA PELOS YANOMANI DEVIDO AO GARIMPO E A FALTA DE ASSISTÊNCIA DE SAÚDE



Imagens recentes confirmam crise humanitária vivida pelos Yanomami devido ao garimpo e à falta de assistência de saúde


Impossível não se chocar com as imagens divulgadas pela Urihi Associação Yanomami. Elas foram entregues por Júnior Hekurari Yanomami, seu presidente e chefe do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY) à reportagem da Globo News, que as exibiu ontem, 9/12.

O registro revela o estado deplorável de crianças e de uma idosa vítimas de desnutrição aguda e de doenças infecciosas como malária. Elas vivem na aldeia Kataroa, na região do Surucucu, em Alto Alegre, ao norte de Roraima, invadida por garimpeiros e foram fotografadas por agentes de saúde. 

O material fotográfico será anexado pela Urihi à denúncia que será encaminhada, em breve, ao Ministério Público Federal (MPF). 

Em seu Instagram, a associação declarou que as crianças estão morrendo. “O agravo da invasão garimpeira, doenças infecciosas e a desassistência do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) – [órgão do Ministério da Saúde responsável pela saúde indígena] -, aumentam a insegurança do povo, resultando em níveis catastróficos de desnutrição”.

Crianças muito magras, com costelas e ossos evidentes / Foto: reprodução/Urihi

Reconhecendo que os Yanomami vivem uma crise humanitária, acrescentou: “A fome tem deixado um rastro de morte, direitos básicos estão sendo violados e a inércia dos órgãos responsáveis é revoltante”. E pede intervenção do governo federal.

De acordo com a reportagem da GN, o procurador Alisson Marugal confirmou que, desde o ano passado, “vislumbramos claramente uma crise humanitária”, não só devido à mineração ilegal, como também à falta de gestão de saúde desse povo. Ele é autor de ações judiciais pelos direitos dos Yanomami.

Idosa muito desnutrida é pesada por agente de saúde / Foto: reprodução/Urihi

Situação confirmada por Ivo Cípio, advogado do Conselho Indígena de Roraima (CIRR), à mesma reportagem: existem cerca de 10 mil crianças sem assistência médica e sem acompanhamento da SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena por falta de recursos e de equipe médica.

Estudo realizado pela UNICEF (órgão da ONU para a infância), em parceria com a Fiocruz, indica que, nas regiões de Maturacá e Auaris, 8 em cada 10 crianças menores de 5 anos apresentam desnutrição crônica. 

O crime organizado contra a saúde indígena

A precariedade na assistência de saúde também tem a marca do garimpo. Em 6/12, por exemplo, uma unidade básica de saúde que atendia 700 indígenas de cinco comunidades, na região de Homoi, foi incendiada. 

Segundo Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami (a mais representativa desse povo), os garimpeiros queimaram o posto. Imagens do incêndio correram as redes sociais. 

A Urihi acredita que o crime foi por retaliação à uma operação do Ibama, em parceria com a Polícia Federal, chamada ‘Guardiões do Bioma (está na terceira fase), que combate crimes ambientais na TI Yanomami destruiu equipamentos dos garimpeiros, entre eles aviões, que foram queimados.

Como se não bastasse essa situação caótica, em novembro deste ano, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal atuaram numa operação contra fraude na compra de remédios destinados ao DSEI-Yanomami, que deixou cerca de 10 mil crianças sem medicamentos. 

Entre os autores do crime, empresários e servidores do DSEI-Y.

Invasão histórica

A TI Yanomami foi homologada em 25 de maio de 1992 – fez 30 anos! -, tem quase 10 milhões de hectares (cerca de 100 mil km2), está localizada entre os estados de Roraima e Amazonas e abriga 371 comunidades – todas de difícil acesso –, com cerca de 30 mil indígenas, entre eles, povos isolados.

Imagem da campanha Fora Garimpo, de 2019 / Foto: Victor Moriyama

Desde a década de 80, é alvo do garimpo ilegal. O indigenista Sydney Possuelo participou do processo de homologação do território e ajudou a fazer a desintrusão de invasores. 

A situação nunca foi boa, mas, a partir do governo Michel Temer e, a seguir, com Bolsonaro, o avanço dos criminosos se intensificou, resultando em conflitos constantes, violência contra mulheres e meninas, cooptação de jovens e impactos na alimentação e na saúde dos indígenas devido à contaminação dos rios e à degradação da floresta, além da disseminação de doenças como a malária.

Em novembro de 2019, próximo do rio Uraricoera, mais de 90% das pessoas que foram analisadas pela Fiocruz apresentaram alto índice de contaminação. E metade dos indígenas de Maturacá estava intoxicada por mercúrio, como contamos aqui

Em maio do ano passado, a foto de uma menina indígena desnutrida, deitada numa rede, viralizou nas redes sociais como um alerta para a situação de abandono dos Yanomami. 

Menina indígena subnutrida em comunidade Yanomami, em 2021 – Foto: reprodução

A imagem foi feita em 17 de abril (autor anônimo) e enviada para o missionário Carlo Zacquini (trabalha com os Yanomami desde 1968) a tornou pública como forma de denúncia e para tentar obter ajuda. Funcionou: procurado pela Folha de São Paulo, ele contou que a menina tinha entre 7 e 8 anos e havia sido diagnosticada com malária, pneumonia, verminose e desnutrição. Sua situação, naquele momento, era estável.

Em novembro do mesmo ano, reportagem do Fantástico passou duas semanas na Terra Indígena Yanomami e registrou um cenário que chamou de desolador: “garimpeiros destroem a floresta, contaminam suas águas e espantam a caça e a pesca, principais fontes de alimento dos povos tradicionais. E, quando precisam de socorro urgente, faltam até remédios”.

Em 2020, ano em que começou a pandemia do coronavírus, o garimpo ilegal cresceu! Nas terra Yanomami, que sofrem com essas invasões desde os anos 70, o crescimento foi de 30%, com um detalhe: só o rio Uraricoera (sobre o qual comentei acima) concentra 52% da atividade garimpeira.

Fotos: Urihi – Associação Yanomami

Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.


Fonte:https://conexaoplaneta.com.br/blog/imagens-chocantes-denunciam-as-sequelas-do-garimpo-na-terra-indigena-yanomami-criancas-e-idosa-severamente-desnutridas/

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