Seca na Amazônia é "bomba relógio" para doenças com potencial pandêmico
Pesquisadora da USP explica como ação humana associada a mudanças climáticas, migrações desordenadas e desenvolvimento social precário criam ambiente propício para enfermidades
Por Camila M. Romano* | The Conversation
03/11/2023 11h56 Atualizado há 2 dias
Lar da maior biodiversidade do planeta, a Amazônia também é uma verdadeira bomba relógio para o surgimento ou ressurgimento de doenças de potencial pandêmico. Isto porque a degradação ambiental e a alteração nas paisagens são fatores importantes neste processo, que se agravam em períodos de seca extrema, como a que atinge a região agora.
Na Amazônia em particular, a pavimentação da BR-319, ligando Porto Velho a Manaus, é fonte significativa de preocupação. As estimativas mais conservadoras preveem que o desmatamento no entorno da estrada deve triplicar nos próximos 25 anos, principalmente devido à especulação fundiária. O que piora pelo fato de que 90% da zona diretamente afetada consiste em áreas de floresta intocada.
E o desmatamento não é uma situação estática, mas dinâmica e imprevisível, resultando na fragmentação das florestas, aumentando o risco de incêndios e reduzindo a biodiversidade das áreas afetadas. A associação entre a ação humana na Amazônia, como a pavimentação da BR-319 e a exploração ilegal de áreas para mineração, as mudanças climáticas, migrações desordenadas e desenvolvimento social precário cria um ambiente propício para o surgimento e ressurgimento de doenças.
Doenças conhecidas…
Este processo pode acontecer de diferentes formas. A degradação de áreas conservadas, o desvio de rios e a seca extrema, por exemplo, levam à escassez de água e alimentos. E isto representa uma ameaça direta de desnutrição, afetando a saúde das populações locais, deixando-as mais vulneráveis a doenças já conhecidas.
A falta de água limpa e a má higiene em condições de estiagem também aumentam o risco de doenças transmitidas por água e alimentos contaminados, como cólera e hepatite, e viroses que causam diarreias graves, como as rotaviroses. Agravando o quadro, a incidência de doenças associadas à má preservação de peixes, como a rabdomiólise (doença da urina preta) — que não é infecciosa —, também sobe durante secas extremas.
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