Padres condenados por abusar de crianças criaram 'manuais' de pedofilia com detalhes dos crimes
Livro mostra que, desde 2001, mais de cem padres católicos foram acusados de abuso sexual de menores no Brasil
Por Fábio Gusmão e Giampaolo Morgado Braga
29/05/2023 04h30 Atualizado há 8 meses
Alfiere Eduardo Bompani e Tarcisio Tadeu Spricigo estavam no auge da vida eclesiástica no início dos anos 2000. Atuavam em cidades de São Paulo na mesma época, mas não se conheciam. Eles escreveram livros sobre a doutrina católica e eram populares com suas missas. Mas o que tinham em comum era algo além da religião. Os dois foram investigados e presos acusados de abuso sexual de crianças e adolescentes.
A polícia encontrou com eles manuscritos que descreviam os abusos sexuais em forma de diários e de manuais de pedofilia. O conteúdo estarreceu os investigadores pela riqueza de detalhes, onde haviam várias lições de como cometer os crimes sem serem pegos.
Os cadernos apreendidos na casa paroquial onde morava Alfieri serviram como prova dos crimes. Nos relatos, em escrita direta e obscena, o padre descreve situações em que se masturbou na presença dos jovens abusados, tocou neles ou exigiu sua ajuda.
Entre os manuscritos tinha um livro de autoria do sacerdote com o título “Contos homossexuais”, no qual narra o abuso de menores, incluindo situações em que houve penetração.
As histórias dos criminosos estão no livro “Pedofilia na Igreja — um dossiê inédito sobre casos de abusos envolvendo padres católicos no Brasil” (Máquina de Livros, 2023), que reúne pela primeira vez os crimes sexuais cometidos por religiosos contra menores de idade no país. Após três anos de trabalho, foram reunidos casos de 108 sacerdotes acusados de abusar de pelo menos 148 crianças e adolescentes. Sessenta deles foram condenados.
Alfieri usou o Sítio Nazaré, situado em Salto de Pirapora, Sorocaba, como cenário dos abusos. Na instituição de caridade, que fundou em 1999, o padre abrigava menores carentes.
Os abusos contra os internos aconteciam a cada visita. A polícia só começou a investigar após a denúncia feita por um deles. Os meninos mantidos na instituição prestaram depoimento.
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