A CORRIDA POR MINERAIS CRÍTICOS PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA, COM URGÊNCIA EM REDUZIR EMISSÕES DE CARBONO PARA COMBATER A MUDANÇA CLIMÁTICA, UM DOS TEMAS DA COP30, EM BELÉM DO PARÁ-BRASIL EM 2025

Novo Carajás é opção na corrida por minerais críticos, um dos temas da COP30
Dos 17 elementos de terras raras, quatro são essenciais para a produção de ímãs usados em motores de veículos elétricos e turbinas eólicas
27/04/2025, 17:00
Rio de Janeiro, RJ - A urgência em reduzir emissões de carbono para combater a mudança climática desencadeou uma corrida por minerais críticos para a transição energética, um dos temas da COP30, em Belém. O Brasil vê nesse movimento uma oportunidade de atrair investimentos e impulsionar o setor. O país tem algumas das maiores reservas de minerais críticos do mundo.
Segundo a edição 2025 do Mineral Commodity Summaries, relatório do Serviço Geológico Americano (USGS), o Brasil avançou uma posição nos rankings globais de terras raras e lítio em 2024, ocupando agora a segunda e a sexta posição, respectivamente. Marcelo Carvalho, diretor executivo da mineradora australiana Meteoric, lembra que dos 17 elementos de terras raras, quatro são essenciais para a produção de ímãs usados em motores de veículos elétricos e turbinas eólicas e, portanto, para a transição energética.
“Um motor de carro elétrico carrega de um a dois quilos de ímãs de terras raras. Uma turbina eólica pode levar até duas toneladas deste material”, detalha o diretor da Meteoric, que se prepara para começar a atuar no Brasil com um projeto de terras raras na região de Poços de Caldas (MG). “Temos 1,1 bilhão de toneladas de minério, e isso já estende a vida útil do projeto para mais de cem anos”.
O lítio é indispensável nas baterias de carros elétricos. São necessários 8,9 kg do mineral por veículo, segundo a Agência Internacional de Energia. A Sigma Lithium, no Vale do Jequitinhonha (MG), responde por quase toda a produção brasileira, processando 270 mil toneladas de lítio verde por ano, e constrói uma segunda unidade, com expectativa de dobrar sua capacidade.
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, há mais de 50 projetos em andamento no país que deverão revelar novas reservas de minerais estratégicos nos próximos anos.
“Nesse momento em que descarbonizar é urgente, a mineração é considerada a mola propulsora desse movimento”, afirma a diretora do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), Silvia França.
O Brasil também lidera as reservas e a produção global de nióbio, empregado em eletrificação, mobilidade e siderurgia. O país tem 94,1% dos depósitos mundiais conhecidos. Também tem posição de destaque no ranking global de grafita, níquel e manganês, essenciais em baterias e armazenamento de energia.
A CBMM, de Araxá (MG), é a maior produtora mundial de nióbio, com capacidade de 150 mil toneladas por ano, quantidade superior à atual demanda do mercado global. Em 2024, em parceria com a Toshiba Corporation e a Volkswagen Caminhões e Ônibus, apresentou o primeiro ônibus elétrico movido à bateria de lítio com nióbio.
“Este marco demonstrou a viabilidade tecnológica do projeto e posicionou o Brasil na vanguarda da inovação”, frisa o CEO da CBMM, Ricardo Lima. No uso siderúrgico, o nióbio aprimora as propriedades do aço, resultando na redução de emissões de CO2 em todo o processo.
Novo Carajás
A Vale também contribui para a redução de emissões de CO2 em usinas siderúrgicas, fornecendo à indústria do aço minério de ferro de alta qualidade. Além de ser uma das maiores produtoras de minério de ferro do mundo, a empresa é a sexta maior produtora de níquel e a 11ª em reservas de cobre, essenciais na transição energética.
Em 2024, a Vale produziu 160 mil toneladas de níquel e tem planos de aumentar a produção para 210 mil a 250 mil toneladas por ano até 2030. Foram produzidas 348 mil toneladas de cobre em 2024, e a empresa está investindo para atingir 700 mil toneladas em 2035.
Parte da produção de níquel e cobre da Vale está em Carajás (PA), onde se concentra também a produção de minério de ferro. A empresa pretende investir R$ 70 bilhões entre 2025 e 2030 no programa Novo Carajás, que inclui as operações de minério de ferro e cobre.
“O Novo Carajás tem potencial para posicionar o Brasil na liderança global no fornecimento de minerais críticos e reforçar seu protagonismo no combate às mudanças climáticas”, afirma o CEO da Vale, Gustavo Pimenta.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a demanda por terras raras crescerá seis vezes até 2034, impulsionada pela expansão da matriz elétrica e pela eletrificação de veículos.
Atenta a este aumento, a Serra Verde Pesquisa e Mineração (SVPM), de Minaçu (GO), avalia a possibilidade de dobrar a produção antes de 2030 sem reduzir a vida útil de sua mina.
A mina iniciou as operações em janeiro de 2024 como única produtora em escala fora da Ásia dos quatro elementos críticos de terras raras: neodímio, praseodímio, disprósio e térbio. A companhia espera produzir pelo menos 5 mil toneladas por ano de óxido de terras raras ao longo de 25 anos.
“Isso torna a Serra Verde um ativo estratégico para o Brasil e para o mercado global”, afirma o presidente da SVPM e chefe de operações do Grupo Serra Verde, Ricardo Grossi.
Desburocratização
O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, ressalta que para se tornar mais do que um exportador de commodities, o país precisa superar entraves regulatórios. A Agência Nacional de Mineração (ANM) admite que o tempo entre o início da pesquisa e a entrada em produção é um dos grandes gargalos ao atendimento da crescente demanda por minerais críticos, podendo levar em média quase 20 anos.
Em 2024, a ANM autorizou 4.630 projetos de pesquisa e concedeu dez direitos de exploração relacionados a minerais críticos. Há ao menos dez projetos no órgão relacionados à simplificação e à ampliação da segurança jurídica nos processos de outorga e gestão de títulos minerários.
O governo também busca estimular investimentos em minerais críticos. Em 2024, o BNDES lançou, com o Ministério de Minas e Energia e a Vale, um Fundo de Minerais Críticos de R$ 1 bilhão, com foco nas empresas juniores e de médio porte. A previsão é que os investimentos comecem no segundo semestre.
Em 2025, com o apoio do ministério e em parceria com a Finep, o BNDES abriu uma chamada pública, com orçamento de R$ 5 bilhões, para planos de negócios com investimentos na transformação de minerais estratégicos. A chamada pública está aberta até o dia 30 e a seleção será divulgada até 12 de junho.
“Todas estas ações voltadas para minerais críticos estão no âmbito da nova política industrial”, afirma José Luis Gordon, diretor de Desenvolvimento Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES.
O Ministério de Minas e Energia também lançou o Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos para a Transição Energética no Brasil no ano passado, e acompanha a tramitação do projeto do deputado Zé Silva (Solidariedade-MG) que institui a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos. O projeto aguarda parecer do relator na Comissão de Desenvolvimento Econômico.
Foto: Divulgação
(Com O Globo)
Fonte:https://www.portalolavodutra.com.br/materia/novo_carajas_e_opcao_na_corrida_por_minerais_criticos_um_dos_temas_da_cop30
Como descarbonizar sem destruir os ecossistemas?
A corrida pela descarbonização é hoje uma pauta global, mas ela não pode se dar às custas de florestas devastadas, rios contaminados e comunidades desalojadas
Publicado 22/05/2025 às 15:24
A corrida por minerais críticos e elementos de terras raras é hoje uma pauta global, em que está inserida, por exemplo, a discussão sobre a Bacia Amazônica, tida como maior sumidouro de carbono e reduto de biodiversidade do planeta. À medida em que os países aceleram em rumo à descarbonização, cresce a busca por minerais e energias limpas. Mas essa corrida expõe um verdadeiro paradoxo: a transição para um futuro com menos carbono pode acelerar a destruição ambiental, afetar populações locais e fragilizar regulamentações em uma das regiões mais vulneráveis do planeta.
A China, por exemplo, amplia sua presença na América do Sul via infraestrutura e contratos minerais. EUA, União Europeia, Canadá e Japão buscam fontes alternativas e rotas fora do controle chinês. Nesse contexto, países da Amazônia viraram alvos centrais, com empresas ocidentais e asiáticas disputando áreas de exploração, geralmente com apoio de financiamento estatal. Além disso, com todos os problemas de infraestrutura e fiscalização, o crime avança na região, com a expansão de redes ligadas ao tráfico de cocaína, à extração ilegal de madeira e ao garimpo.
O dilema é evidente: como conciliar demanda por minerais estratégicos – essenciais para a transição energética – sem destruir a integridade ecológica e social da Amazônia? Medidas como formalizar a mineração artesanal, promover tecnologias livres de mercúrio e reforçar os estudos de impacto ambiental são necessárias, mas ainda insuficientes. O que se exige são modelos de governança que coloquem em primeiro plano os interesses das comunidades locais, garantam consultas rigorosas e respeitem os limites ecológicos acima da lógica da extração a qualquer custo.
Em resumo, a descarbonização não pode se dar às custas de florestas devastadas, rios contaminados e comunidades desalojadas. A Amazônia não é só um depósito de recursos: é um organismo vivo que regula o clima, sustenta culturas e aponta alternativas. A questão de se florestas mundo afora serão sacrificadas à demanda do Norte Global ou se poderão ser palco de uma transição justa e verdadeiramente sustentável irá moldar o destino de nosso planeta.
Fonte:https://outraspalavras.net/outrasaude/como-descarbonizar-sem-destruir-os-ecossistemas/
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